As inundações na Avenida Rondon Pacheco, em Uberlândia, são um problema recorrente que gera grandes prejuízos tanto para o poder público quanto para a iniciativa privada. Os episódios de enchentes na região acontecem há anos, causando danos financeiros que somam milhões de reais, e, até o momento, nenhuma solução definitiva foi implementada. Esse impasse pode ser atribuído, em parte, à falta de vontade política para enfrentar a questão de forma eficaz. Além disso, a reconstrução periódica das áreas afetadas parece servir para alimentar contratos antigos com empreiteiras que, de alguma forma, sustentam interesses políticos locais.
O diagnóstico das causas das enchentes na Avenida Rondon Pacheco, ao meu ver, é relativamente simples. As inundações são o resultado de grandes volumes de chuva concentrados em poucas horas, que escoam sobre uma bacia hidrográfica do córrego São Pedro, extremamente impermeabilizada por edificações, concretagens e pavimentações. Como consequência, os pontos de infiltração de água no solo tornam-se insignificantes frente à intensidade do escoamento superficial gerado pelas chuvas intensas. Dessa forma, quase todo o volume da precipitação acaba fluindo diretamente para o leito da bacia, concentrando-se na Avenida Rondon Pacheco, onde o córrego São Pedro está canalizado por uma galeria que se inicia nas proximidades do viaduto Régis Bittencourt até o Rio Uberabinha.
O problema ocorre porque a galeria não consegue suportar o volume de água que chega em um curto espaço de tempo, fazendo com que o córrego transborde. Esse transbordamento, independentemente de o canal de drenagem do córrego ser aberto ou fechado, resulta em inundações frequentes na avenida. O trajeto das águas, que segue em direção ao rio Uberabinha, na altura do Praia Clube. O sistema de drenagem atual é insuficiente para escoar a água de maneira eficiente durante grandes tempestades.
Soluções Técnicas para Contenção das Enchentes
A solução técnica para conter as enchentes da Avenida Rondon Pacheco deve levar em consideração alguns fatores importantes. Primeiramente, é cada vez mais comum que grandes volumes de chuvas se concentrem em curtos períodos, agravando o problema das inundações. Além disso, a impermeabilização da bacia hidrográfica é um fato irreversível, já que a área é amplamente urbanizada e pavimentada. Outro ponto relevante é que o tipo de leito do córrego (aberto ou fechado) não tem influência direta sobre o transbordamento, pois o principal fator de enchente é o volume de água que chega em pouco tempo ao leito do córrego.
Diante desse cenário, a solução mais eficaz e econômica para conter as inundações na Avenida Rondon Pacheco é a criação de reservatórios de contenção, também conhecidos como “piscinões”. Esses bolsões de retenção de água teriam como objetivo armazenar parte do volume das chuvas e liberar a água de forma gradual ao longo de um período de 12 a 24 horas, evitando o acúmulo repentino de grandes volumes de água na avenida.
Os reservatórios podem variar em tamanho e localização, desde pequenos reservatórios em áreas residenciais até grandes estruturas voltadas para a macrodrenagem urbana. O número de reservatórios, suas dimensões e os pontos exatos de instalação devem ser definidos com base em estudos detalhados do comportamento pluviométrico da bacia e nas estatísticas de eventos extremos de chuva na cidade. Esse planejamento seria essencial para garantir que os bolsões fossem capazes de reduzir o pico de escoamento superficial, distribuindo-o ao longo do tempo e minimizando os impactos das chuvas intensas sobre a Avenida Rondon Pacheco.
Por outro lado, há propostas para reabrir o leito do córrego São Pedro, atualmente canalizado, como uma possível solução para o problema das inundações. No entanto, essa medida não resolveria de maneira eficaz o problema e ainda criaria um novo desafio: a redução da capacidade de tráfego em uma das principais vias estruturais de Uberlândia, que liga o setor leste ao oeste da cidade. A Avenida Rondon Pacheco é uma via estratégica para o trânsito urbano, e uma intervenção dessa magnitude poderia causar transtornos significativos no fluxo de veículos.
A solução para as inundações na Avenida Rondon Pacheco passa, portanto, pela adoção de medidas de engenharia que possibilitem a retenção e o controle do escoamento superficial das águas das chuvas. A criação de bolsões de contenção, distribuídos ao longo da bacia hidrográfica, parece ser a alternativa mais viável do ponto de vista econômico e ambiental, considerando as características da área e a natureza das chuvas na região. O enfrentamento desse problema, no entanto, exige um comprometimento político e uma ação coordenada entre os setores públicos e privados para garantir que as soluções propostas sejam implementadas de forma eficiente e permanente.
- Sélis Brandão, Geógrafo Bacharel e especialista em estudo e gestão ambiental