As transformações na mobilidade urbana não são um fenômeno recente. Há mais de um século, as carruagens puxadas por cavalos deram lugar aos bondes elétricos, que, por sua vez, foram substituídos pelos automóveis. Atualmente, vivenciamos uma nova e profunda transformação, impulsionada pelas tendências da digitalização, diversificação e densificação. Esta nova fase não apenas visa melhorar a qualidade de vida nas cidades, mas também responde a desafios cada vez mais complexos: crescimento populacional, mudanças climáticas, pressões ambientais e crises sanitárias.
Diante desse cenário, soluções pontuais ou incrementais já não são suficientes para enfrentar problemas estruturais como congestionamentos crônicos, poluição atmosférica, insegurança viária e ineficiência no uso do espaço urbano. O momento exige mudanças amplas e rápidas, guiadas por uma visão de futuro mais sustentável, inclusiva e resiliente. Isso significa repensar, de forma profunda, como o transporte urbano é planejado, operado e vivenciado pela população, por meio de abordagens inovadoras que integrem todos os aspectos da mobilidade e do urbanismo.
A mobilidade nas cidades está se reinventando rapidamente: veículos, serviços, infraestruturas e hábitos de deslocamento estão em constante transformação. Algumas metrópoles têm conseguido conter o avanço do modelo urbano centrado no automóvel individual, adotando legislações e políticas de uso do solo mais rigorosas, o que tem favorecido processos de diversificação modal e adensamento urbano. Com base nos chamados três Ds — digitalização, diversificação e densificação —, está emergindo um novo paradigma de mobilidade. Nele, as cidades assumem protagonismo ao experimentar e implementar novas formas de organizar seu espaço urbano, otimizando o uso do território para melhor atender às necessidades de deslocamento da população. Tudo isso impulsionado pela urgência de reduzir as emissões de carbono no setor de transportes em prazos cada vez mais apertados.
O campo da mobilidade urbana tornou-se um tema cada vez mais interdisciplinar, atraindo pesquisadores e profissionais de áreas como geografia urbana, planejamento territorial, ciências ambientais, sociais, econômicas, da informação e, mais recentemente, da saúde pública. Com isso, a mobilidade passou a ser compreendida como um sistema complexo, multifacetado e de difícil solução única — ou seja, um problema “perverso”, que demanda abordagens diversas e integradas. Hoje, entende-se que mobilidade urbana vai muito além de simplesmente conectar dois pontos no menor tempo possível. As pessoas — enquanto cidadãs e viajantes — estão no centro das novas propostas, e suas necessidades, expectativas e experiências de deslocamento (especialmente em trajetos porta a porta) passaram a ser o ponto de partida para a formulação de soluções de mobilidade inteligentes. Assim, as tecnologias e os sistemas deixam de ser um fim em si mesmos e passam a ser meios para garantir mais qualidade, equidade e eficiência nas jornadas urbanas.